“Quem está no poder local tem que ter a humildade em aceitar que não sabe tudo”

Depois de uma pausa na política, Carlos de Sousa volta a candidatar-se à Câmara de Palmela mas desta vez em representação do Movimento de Cidadãos pelo Concelho de Palmela...

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Depois de uma pausa na política, Carlos de Sousa volta a candidatar-se à Câmara de Palmela mas desta vez em representação do Movimento de Cidadãos pelo Concelho de Palmela por entender que “depois de ouvir diversas opiniões, cheguei à conclusão que o concelho de Palmela estava a atravessar um momento muito mau no que toca ao poder local”.

Carlos Sousa considera que este movimento “consegue fazer melhor do que o atual executivo municipal” e por isso propõe-se a tornar Palmela num município “verde” e com “qualidade de vida”.

– Depois de tantos anos afastado da vida política, o que o leva a candidatar-se à autarquia de Palmela?

Saí da política ativa em 2006 e saí do PCP há 13 anos (em 2008) e neste período, até 2018 fui convidado diversas vezes para concorrer às Câmaras de Palmela ou de Setúbal através de partidos ou atrás de movimentos independentes. Sempre disse que não, porque entendia que já tinha cumprido o meu dever cívico.

Foram 26 anos ligados à política local. Mas em Maio de 2018 com a minha vinda para o Centro Social de Palmela fez com que eu começasse a sentir, ainda mais, a forma como o município estava a ser gerido, além de sentir através dos munícipes alguns problemas graves quer no funcionamento da autarquia, quer a estagnação do concelho.

Cheguei pensar que algumas dessas queixas eram exageradas, mas depois de ouvir diversas opiniões, cheguei à conclusão que o concelho de Palmela estava a atravessar um momento muito mau no que toca ao poder local e face a isso resolvi avançar com o Movimento de Cidadãos pelo Concelho de Palmela para concorrer à Câmara Municipal.

– Acha que o seu regresso ao concelho para trabalhar o deixou mais desperto para certas realidades?

Foi algo que aprendi. Moro há 30 anos no concelho, mas fiz a muita vida profissional, desde que vim de Angola, em Setúbal e com o regresso ao concelho para trabalhar sem dúvida que contatei de perto com problemas que julga nem sequer existir.

– Depois de ouvir as queixas que refere de alguns munícipes, foi o seu sentido político que o despertou novamente para o poder local?

O facto de ter estado 12 anos na Câmara de Palmela, 4 como vereador e 8 como presidente, e terem sido 12 anos extremamente ricos e muito dinâmicos, foi na altura em que a Autoeuropa chegou a Palmela, foi na época em que se deu o grande salto na qualificação do nosso vinho, também se verificou um grande salto cultural, e com tudo isto criamos uma grande ligação emocional, que nunca a perdi, que me desafiou a regressão a Palmela.

– Já fez diversas críticas ao pelouro do Urbanismo, um pelouro que no passado foi seu. Também foi no seu mandato que foram criadas iniciativas como o Festival do Queijo Pão e Vinho, Festas Populares de Pinhal Novo e a Mostra de Vinhos de Fernando Pó.  Hoje quando olha para o concelho o que sente?

Sinto-me triste, e por isso é que resolvi candidatar-me por um movimento independente. Tenho muito respeito por todos os partidos políticos, e na minha opinião são fundamentais porque fazem parte integrante da democracia. No entanto também acho, que nomeadamente no poder local, há lugar para pessoas que não e revêem nos partidos criarem grupos de cidadãos independentes e assim poderem concorrer. Considero que este movimento consegue fazer melhor do que o atual executivo municipal.

“Um dos eixos estratégicos que temos para o concelho é tornar Palmela num município economicamente dinâmico”

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– Não comprando partidos, nem pessoas e pegando nas suas palavras, quando é que o concelho estagnou?

Não tenho um momento concreto mas aquilo que todos vemos é que se formos a Setúbal, encontramos uma cidade muito bonita, e quando passeamos pelo concelho de Palmela deparamo-nos com graves problemas. Por exemplo os graves problemas que a população do Pinhal Novo tem com o abastecimento de águas. Essa é uma realidade que estagnou, e porquê? Porque aquela rede de água precisava de ser substituída em seu devido tempo. Isto é um exemplo de estagnação, mas há outros.

– Falou há pouco da Autoeuropa, mas o concelho não pode ser só a fábrica da Volkswagen. Há mais indústria e ao longo dos anos a população queixa-se do estado de “abandono” em que se encontram os parques industriais do concelho.

Um dos eixos estratégicos que temos para o concelho é tornar Palmela num município economicamente dinâmico, onde teremos que dar uma resposta rápida aos investidores.

A grande maioria dos investidores trabalham com capitais de terceiros, nomeadamente a banca, e como tal não se pode estar dois ou três anos à espera de uma resposta da Câmara Municipal. Por outro lado há que criar incentivos ao associativismo empresarial para que assim possamos qualificar as zonas industriais existentes. Também é necessário dinamizar o setor agrícola, agro-industrial, industrial e logístico e respetiva diversificação e todas estas áreas.

 A diversificação do concelho vai permitir que não fiquemos presos a apenas uma atividade económica, reconhecemos a grande importância da Autoeuropa no concelho e no país, mas também temos que criar outras soluções quer na indústria, quer no setor agrícola. Anualmente também pretendemos criar um evento onde iremos mostrar tudo aquilo que de melhor temos no concelho, quer a nível industrial, quer nível agrícola.

“Há que projetar a atividade e produção cultural nos seus diferentes domínios, a nível regional e nacional, em parceria com o nosso movimento associativo e com os nossos criadores artísticos”

– Quais são os outros pontos prioritários do seu programa eleitoral?

Propomo-nos a transformar Palmela num município com qualidade de vida e que passa por uma melhoria no abastecimento de água no concelho. A rede viária é, outra, das nossas prioridades e dou como exemplo a estrada que liga Palmela ao Poceirão, que é um perigo. Contudo também temos que olhar de outra forma para os nossos aceiros, a limpeza urbana e o espaço púbico precisam de ser melhorados. Se queremos que este concelho tenha maior potencialidade turística, temos que ter um espaço público cuidado e bonito.

Veja-se o exemplo das rotundas. Noutros pontos do país, as rotundas além de fazerem o seu papel de regular o trânsito, são espaços bonitos, que mostram a identidade dos locais onde se encontram. No nosso concelho as rotundas, são apenas rotundas e nós quando formos eleitos iremos tornar essas rotundas espaços que melhorem a beleza do nosso concelho.

Há que projetar a atividade e produção cultural nos seus diferentes domínios, a nível regional e nacional, em parceria com o nosso movimento associativo e com os nossos criadores artísticos, porque a Cultura também é qualidade de vida. Ainda no âmbito da qualidade de vida, há que qualificar toda a nossa zona histórica, nomeadamente o Castelo.

Outro ponto extremamente importante é tornar Palmela um município verde, requalificando os nossos espaços verdes e jardins, criar pulmões verdes urbanos. Há, ainda, que criar parcerias com os atores sociais e um efetivo apoio às famílias desfavorecidas. Apesar da nossa responsabilidade direta seja muito pequena, nós defendemos uma ligação mais frutuosa com as IPSS do concelho. Por fim é extremamente importante ouvir e dialogar com os agentes sociais, económicos, trabalhadores e dirigentes municipais.

– Foi o “pai” do Orçamento Participativo em Palmela e em Portugal, numa experiência que trouxe do Brasil. Desvirtuou-se essa máxima do “ouvir e dialogar”?

Das queixas que ouvi de cidadãos, empresários e até de trabalhadores do município, é que as pessoas dificilmente são ouvidas. Quem está no poder local tem que ter a humildade em aceitar que não sabe tudo e que estamos sempre a aprender e por isso é necessário ouvir os técnicos mas também há que ouvir os cidadãos.

– Como tem sido a sua experiência durante a pré-campanha?

Apesar dos condicionalismos impostos pela pandemia, as pessoas conhecem-me para o bem e para o mal. A experiência que adquiri do ponto de vista profissional após ter saído da política foi riquíssima e a minha gestão municipal será uma gestão moderna e aberta, por isso sinto que os cidadãos estão com vontade de mudança e comigo as pessoas sabem que será uma mudança com confiança e sem surpresas desagradáveis.

– São 9 os candidatos à Câmara Municipal de Palmela. Considera que a divisão dos votos pelos candidatos poderá trazer apenas maiorias relativas e dessa forma dificultar a gestão autárquica nos próximos quatro anos?

Matematicamente a sua questão tem lógica e tem razão de ser e por isso na minha leitura acredito que não haverá uma pessoa que ganha uma Câmara, mas há também sempre alguém que a perde. Em Setúbal eu ganhei a Câmara Municipal, mas o Manuel da Mata Cáceres perdeu e muito. Em Palmela acredito que vou ganhar a Câmara, mas o atual presidente Álvaro Amaro, também vai perder.

– Ganhando as eleições e admitindo que vence com uma maioria relativa, está aberto a coligações?

O Movimento de Cidadãos pelo Concelho de Palmela está a lutar por uma maioria absoluta, mas temos o máximo de respeito por todos os outros candidatos e por isso se vencermos as eleições vamos continuar a ter o máximo respeito por todos os outros. Além disso o mais importante no poder local são as pessoas, obviamente que se vencermos com maioria relativa, será fácil fazer “acordos” para que se possa gerir e governar a autarquia.

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