
A necessidade de suspender os treinos no Palmelense Futebol Clube, bem como em todos os clubes do país, levou o professor Cláudio Saúde o clube de Palmela a apresentar aos seus atletas um plano de treinos.
Trata-se de um projeto pioneiro e que já colocou pais e filhos a praticar desporto em casa, numa altura em que todo o país se encontra em Estado de Emergência. Em entrevista ao JPN, Cláudio Saúde afirma que o “feedback tem sido fantástico”.
– O que o levou a criar este plano de treinos do Palmelense Futebol Clube?
Com o acompanhamento das notícias e da evolução da pandemia mundial do COVID-19, comecei a aperceber-me que o cancelamento dos jogos e treinos do Palmelense, pudesse ser uma situação inevitável. Sendo vice-presidente da direção da Associação Nacional de Treinadores de Futebol e Futsal, fomos conversando sobre a situação, com dados e informações da Federação Portuguesa de Futebol, da Liga e da Direção Geral de Saúde, que a paragem forçada ia ser uma realidade.
Como trabalho num Colégio muito bom em Lisboa, há 19 anos, foi-me, também, pedido pela direção que aplica-se um plano de atividades motoras para que se o Colégio parasse, os nossos alunos do 1º, 2º e 3º ciclos pudessem trabalhar em casa caso a quarentena fosse aplicada. Assim, comecei com alguma calma e tempo a preparar este plano de treino. Sendo muito amigo do presidente do Palmelense, Carlos Valente, falei com ele para aplicarmos um programa de treino em todas as equipas do clube. Esta ideia foi prontamente aceite pela direção do clube e assim foi.
Todos os treinadores dos Infantis aos Seniores receberam este plano e reencaminharam para os seus atletas. Posteriormente foi colocado no Facebook do Palmelense, e todos os que receberam o plano estão a aplicar o programa.
– Há já algum feedback por parte dos pais e atletas?
O feedback tem sido fantástico. Primeiro porque os atletas estão em casa e com um ou ambos os pais, o que lhes permite aplicar o programa de treinos e acompanhar os filhos, e também eles fazem exercício. Já há concursos, opiniões, fotografias e vídeos de pais a fazerem os exercícios e os filhos nos grupos privados do Facebook e WhatsApp das equipas.
A minha satisfação é ver que o clube, num momento de crise, consegue proporcionar através destes planos de treino, uma atividade saudável, de família e acima de tudo de ativação muscular e treino personalizado.
Estes treinos estão feitos por escalões, onde o tempo e repetições dos exercícios diferem de escalão para escalão. Penso ser um programa completo de resistência, flexibilidade e força inferior, média e superior.
“Os clubes não estavam preparados para esta situação”
– Este plano do Palmelense gerou alguma movimentação nas redes sociais, visto ser notório o número de partilhas. Tem noção de quantos clubes já estão a aderir a este plano de treinos? E quais são?
Neste momento tem sido um “boom”. Os clubes não estavam preparados para esta situação, pois durante algum tempo esta realidade da paragem dos campeonatos primeiro e depois dos treinos era quase diária. Andávamos à espera das indicações da DGS, das Associações de Futebol e da FPF. Tudo veio em catadupa.
Como por sorte e felizmente comecei a pensar no assunto antes, foi mais fácil trabalhar com o Palmelense neste sentido. O Palmelense Futebol Clube é um clube bem organizado, com muitas condições para os seus atletas e com uma direção e equipas técnicas em perfeita sintonia. É um clube sereno e acima de tudo muito virado para as famílias e para os seus atletas.
Até a este momento houve 22 clubes, que por colegas meus treinadores, amigos e presidentes, que me pediram estes treinos. Muitos dos clubes são do distrito, mas também de Lisboa e agora de Cabo Verde.
Como sou conhecido no meio dos treinadores, por também ser treinador há 22 anos, e por ser vice-presidente da direção da ANTF e vice-presidente do Núcleo da ANTF do Distrito de Setúbal, acabo por conhecer muitos treinadores e como tenho uma excelente ligação com muitos clubes que ajudo nas orientações dos seus treinadores, acabou por levar a que se forma-se uma corrente de pedidos e partilhas nas redes sociais muito interessante e muito saudável.
– Dada a situação em que o país se encontra poderão existir novidades ao nível do plano de treinos?
Sim, e penso que não podemos parar aqui. Os planos de treino estão feitos para três semanas de quarentena, na pior das hipóteses a quarentena vai prolongar-se. Aí, vou adaptar outros planos.
Estes estão feitos e pensados para que quando chegar ao fim da terceira semana possam voltar ciclicamente à primeira semana novamente. Mas já tenho algumas ideias e tempo para pensar num outro tipo de treinos. As rotinas das pessoas foram “quebradas” e neste momento estão quase todas em casa. Para atletas de competição a paragem é muito prejudicial. Aí vamos ter de continuar a desenvolver este tipo de trabalho junto dos atletas do Palmelense.
É a obrigação e desejo da direção continuar a ajudar as famílias à distância.
“Os pais deverão estar ao lado do clube, e continuar a ajudar o clube manter a sua vitalidade e contas em dia”
– Os clubes estão preocupados com esta paragem. Qual é a sua opinião?
Os clubes estão preocupados e aflitos. Como sabemos os clubes vivem e sobrevivem de receitas.
As escolas de formação (onde os atletas pagam) são uma fonte de rendimento para os clubes e muitos deles servem apenas para pagar as despesas do clube, como água, gás, eletricidade, manutenção dos espaços, pagamentos aos treinadores e jogadores.
Na minha opinião, os pais deverão estar ao lado do clube, e continuar a ajudar o clube manter a sua vitalidade e contas em dia. Por exemplo, como pai de um atleta do Palmelense Futebol Clube não penso em deixar de pagar a mensalidade do meu filho, pois sei que esse dinheiro é importante para o clube e par manter os seus compromissos bancários e de pagamentos.
Como pai não gosto de estar no clube, confiar e sentir-me bem quando as coisas correm bem, quando as coisas correm mal ou perceber que o clube não tem culpa desta situação. Quero fazer parte da solução e não de mais um problema.
– Com as funções que ocupa no mundo do futebol, a que se deve esta maior ligação ao Palmelense?
Primeiro porque sou de Palmela. Não nasci em Portugal, nasci na Alemanha, e com um pai “setubalense de gema” quando regressámos ao país viemos morar para Palmela.
Em segundo lugar, como atleta joguei em diversos clubes e nunca no Palmelense, infelizmente. Mas quando ia ao Palmelense era sempre bem recebido e tinham sempre boas equipas. Agora como pai e profissional na área do deporto e mestre em Gestão Desportiva ligado às diferentes entidades do futebol, “apaixonei-me” pelo clube. É um clube de pessoas honestas e boas. Pessoas com visão para fazer crescer o clube e a vila de Palmela.
Há muitos anos que trabalho diretamente com a Câmara Municipal de Palmela, através da ANTF, e sempre fui muito bem tratado e recebido. A autarquia sempre demonstrou este sentimento e querer desenvolver e fazer crescer a vila e o concelho. Assim, e penso que estes clubes como é o caso do Palmelense, com pessoas boas e de coragem e visão, com um presidente com uma experiencia e conhecimento profundo em gestão de empresas juntamente com a Câmara Municipal poderemos desenvolver e criar condições para o crescimento da região, da vila e do clube.
Penso que os empresários e palmelenses devem estar lado a lado com o clube. Devem sentir Palmela e colaborar com tudo aquilo que ela tem de melhor e de bela.
– Via-se a trabalhar com e no Palmelense?
Sim. Primeiro pela grande amizade que tenho com o seu presidente, Carlos Valente, e toda a direção, treinadores, dirigentes e agora com muitos pais. Sou da terra e já trabalhei em muitos clubes, quer profissionais, quer amadores, e todos esses têm o meu respeito e admiração, quer pelas caraterísticas próprias da região quer de organização.
Neste momento tinha previsto o lançamento de um livro “Organização e Gestão de um Clube Desportivo e de uma SAD”, e com apoio digital de vários formulários, documentos necessários par o dia-a-dia do clube. Derivado à situação de pandemia mundial foi adiado, mas já está pronto. Óbvio que o Palmelense, com o qual fui convidado a trabalhar diretamente com o presidente, na assessoria da direção, mas aí qual será com todo o gosto que irei ajudar o clube a crescer.
Este meu livro vem na sequência do meu trabalho num clube profissional e num clube amador, e é a simbiose perfeita para as pessoas que estão nos clubes amadores possam ter uma ajuda e um suporte de como se organiza “profissionalmente” um clube de raiz fiscalmente, contabilisticamente, desenvolvimento de departamentos e organigramas de funcionamento.
Por outro lado, os clubes que optem por uma SAD saberem o que precisam de fazer na sua organização, direitos e deveres e como vão crescer. O presidente do Palmelense, Carlos Valente, pela sua experiência, tem uma visão para o clube. Quer o melhor para o Palmelense e sabe que tem e está rodeado de pessoas competentes que o podem ajudar.